tradutor
sábado, 17 de março de 2012
Mizohata San & Tetsuya San
Ohayou!
Amanha vou dar inicio a minha caminhada e nao tenho ideia do que me aguarda.
Pelo que vivenciei ontem ao visitar o monte Koya san, posso esperar qualquer coisa.
A estacao do teleferico fica a quase 900 m de altura sobre o nivel do mar e o clima mudou muito desde minha saida de Osaka 2 horas antes. Bastante frio e todo coberto de neve.
O monte Koya san foi declarado patrimonio mundial da humanidade e eh um dos lugares sagrados para os budistas.
A visita ao Koya san poderia tomar uns dois dias, tantos sao os templos, museus, cemiterios com tumulos de famosos samurais e muito mais. Existe a possibilidade de hospedagem em um templo budista.
Mas eu tinha um proposito na visita: ir ateh o mausoleu de Kobo Daishi e pedir sua protecao para minha jornada.
Depois ainda teria uma viagem de 2 horas de trem volta ate Osaka e ainda 3 horas de autobus ate Tokushima, para poder chegar bem perto do templo 1.
Entao desci do microbus, segui as orientacoes e depois de caminhar 1 km atraves de um bosque com arvores enormes e pasando por um cemiterio lindissimo, com tudo coberto de neve, cheguei ao templo de Kobo Daishi.
Eu vinha pensando que, por nao seguir a religiao budista e, consequentemente, nao conhecer os procedimentos para entrar num templo budista, poderia vir a fazer uma besteira e faltar o respeito a um lugar sagrado. E eu estava prestes a entrar num dos lugares mais sagrados para os seguidores dessa religiao. Nao ia cair bem fazer uma bobagem nesse local por pura ignorancia.
Entao fiquei de pe em frente ao templo, me concentrei e pedi ajuda.
Em menos de 1 minuto se aproximou um senhor bem velhinho, um visitante do templo que chegou e me explicou, com gestos, sem dizer uma palavra, o que eu devia fazer antes de entrar. Kobo daishi ajudando...
Ao entrar nesse templo nao tem como nao ficar emocionado.
Voce pode seguir ou nao o budismo mas dentro desse local se respira uma atmosfera muito especial, sagrada, todo iluminado com milhares de velas que sao mantidas continuamente acessas pelos visitantes.
Quando entrei, um profundo silencio por parte dos visitantes e um monje estava cantando um mantra. Me arrepiei todo...
La dentro outro senhor que estava rezando me viu parado e se aproximou e me orientou o que devia fazer. Sera que este senhor tinha combinado com o velhinho que me orientou antes de entrar?
Sai do templo sentindome um pouco flutuando e me dirigi na area posterior do templo, onde encontra-se o santuario onde Kobo Daishi meditou antes de morrer.
La encontrei um grupo de monjes e estudantes budistas entoando mantras em homenagem a Kobo Daishi. Foi de arrepiar tambem...
Acendi uma vela e uma vara de incenso e fiz minhas reverencias em frente ao tumulo de Kobo Daishi e pedi sua protecao na minha jornada.
(nao tenho imagens do templo em si porque as fotos sao proibidas mas tenho algumas fotos dos locais proximos onde eh permitido tirar fotos).
Depois da visita ao templo as coisas nao acabaram. Me dirigi primeiro a um escritorio onde fui recebido por Mizohata san, um monje budista que falava "a little" de ingles.
Contei para ele que estava vindo para fazer a peregrinacao em Shikoku e ele me recebeu com muita atencao e cuidado. Me deu algumas orientacoes e adquiri com ele o caderno onde a gente guarda os selos das visitas aos 88 templos + o selo da visita ao templo de Kobo daishi.
O caderno se chama NOKYOCHO.
Os selos na realidade sao desenhos com inscricoes em sanscrito feitas a mao por um monje. Mizohata san fez meu primeiro selo no meu livro de viagem.
Adquiri tambem com ele minha tunica branca (HAKUI), o cajado (KONGOZUE), os cartoes brancos (OSAME-FUDA) nos quais a gente escreve nosso nome, endereco e um pedido em cada um dos 88 templos visitados e tambem um rosario budista (JUZU).
O me despedir ele disse com muita calma: " sua peregrinacao ja comecou, se puder, volta a nos visitar aqui no futuro"...
E me ensinou um mantra para rezar quando visitar os templos: "Namudaishi henjokongo".
(tenho uma foto muito linda de Mizohata san desenhando o primeiro selo que espero poder publicar)
Ja estava quase indo embora quando pedi a um senhor se podia tirar uma foto minha.
Foi assim que conheci Tetsuya san.
Tetsuya eh um empresario da area de midia em Toquio, devoto de Kobo Daishi, e que tinha vindo desde Toquio para visitar o templo.
Ele morou 5 anos em USA entao fala um ingles perfeito. Quando contei que eu ia fazer a peregrinacao ele ficou emocionado: "a pe?", perguntou. "Sim", respondi.
Tetsuya san tinha feito o caminho de Shikoku varios anos atras, antes de comecar a universidade e seguindo uma recomendacao da avo dele, tambem devota de Kobo Daishi e que fez o caminho a pe ja aposentada e sozinha (nao tive como nao lembrar da senhora japonesa bem velhinha que encontrei no caminho de Santiago).
Tetsuya entao virou meu mestre (Kobo daishi se fazendo presente de novo...)
Me perguntou se eu era budista. Expliquei que nao mas que gostaria de fazer o caminho seguindo as tradicoes budistas.
Entao ele me deu uma aula completa.
Explicou todos os procedimentos que eu devia seguir nas visitas aos templos, me ensinou a usar o rosario budista (JUZU) e me deu algumas dicas valiosas:
1- as pessoas vao me oferecer presentes (o setai) durante o caminho, aceite todos como um presente de Kobo Daishi. Podem me oferecer comida, lugar para dormir, carona, dinheiro ou qualquer outra coisa que possa vir a ser util para mim. Ele me aconselhou a aceitar tudo. Mesmo que eu esteja fazendo o caminho a pe e alguem me de carona, aceita. Ou mesmo se um dia, por exemplo, alguem me oferecer a casa para dormir ainda cedo e eu tivesse planejado andar mais naquele dia. Aceita. Sao presentes que Kobo Daishi esta me mandando para me proteger de algo.
2- nao fique com raiva se algo der errado. Toma isso tambem como um presente de Kobo Daishi. Tem algo a aprender quando as coisas nao dao certo.
3- quando passar nas pontes, nao bata o cajado no chao. Isso se deve a que Kobo Daishi, quando fez sua peregrinacao ha mais de 1.000 anos atras, costumava dormir em baixo das pontes, entao nao se deve bater em sinal de respeito e para nao desperta-lo.
Fora a terceira recomendacao de nao bater o cajado ao atravesar nas pontes, eu pensei em convidar, caso alguem que esteja seguindo este blog se sinta a vontade, a tentar seguir as primeiras duas junto comigo: aceitar aquilo que alguem possa vir a oferecer nas proximas semanas e nao ficar com raiva caso algo de errado.
Depois da aula, Tetsuya san pegou a carteira e me deu 3.000 yens de presente e mais um pao que tinha na sua mochila...
Eu fiquei sem entender nada.... O cara tinha parado quase meia hora para conversar e me dar um monte de dicas e ainda me deu dinheiro e comida!!
Aceitei emocionado, agradeci muito e nos despedimos com Tetsuya san dizendo: "good luck, o henro san!". Boa sorte, senhor peregrino!
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Ta aceito o convite meu amigo Javier... receber o que ofertar e não ficar com raiva qdo não der certo.... Vamos juntos... descobrindo e nos emocionando... boa sorte... Alci Raulino Morada Nova - CE - Brasil.
ResponderExcluirTambém vou pegar a carona: me abrir para receber o que me quiserem dar e acolher tudo o que acontecer, como estando "tudo certo!". E vamos nós!!!
ResponderExcluirComeço já agradecendo pelos presentes: poder acompanhar esta experiência, e receber agora este convite! Abraço forte.
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